Uma carta para meu avô

12 de fevereiro de 2014. Nunca pensei que chegaria, mas foi o dia em que eu me vi sem chão. Não me lembro de nenhum outro dia que eu tenha chorado tanto. Aliás, pensando bem, talvez alguns dias, meses e anos seguintes, tenham sido mais difíceis e talvez, só talvez, eu tenha chorado um pouquinho mais viu?

Mas hoje, depois de quatro anos, me senti pronta para escrever essa carta. Uma carta para o meu avô.

Você, Seu Francisco, que em vida, me ensinou tanto, não seria diferente, com a lição mais difícil que a gente enfrenta na vida: a morte.

Morte, que palavra mais difícil de se dizer! É uma mistura de impotência e insegurança, quando nos vemos de cara com ela. Aos nossos olhos, nesse plano terreno, não há nada mais a se fazer. A verdade é que desde que você se foi, eu tenho passado por um processo de aprendizado e amadurecimento, que eu acho que dura uma vida inteira. Por que afinal, quem está preparado para isso? Acho que ninguém…

Não estava preparada e acho que eu nunca estaria, na minha cabeça, você ficaria para sempre aqui, do meu ladinho. Era meu porto seguro, eu sabia que qualquer coisa que eu precisasse na minha vida, era só gritar “Vô”. Você sempre dizia que a gente precisava ter fé e coragem para tudo nessa vida, e depois que você se foi, passei a entender melhor, o que sempre me dizia. A minha primeira prova disso, foi a minha formatura na faculdade – que ao meu ver, era uma das maiores realizações da minha vida – acontecer num momento tão difícil para mim. A gente tava sonhando muito com esse dia né? Já falava disso há anos e você dizia que eu tinha talento para ser jornalista. Aliás, dia desses, o facebook me lembrou de uma conversa nossa, você me dizendo que eu tinha nascido para ser jornalista. Acho que estou seguindo no caminho certo, afinal, você nunca me deixou pensar o contrário. Mas aí, 5 dias antes da minha formatura você se vai. Doeu, doeu muito! Até hoje, eu realmente não sei como eu consegui ir até lá receber o meu diploma. Talvez tenha sido a tal da fé e da coragem que você tanto me dizia. Percebi então, que eu era muito mais forte do que eu imaginava, e muito menos do que eu queria. Não foi fácil, nada fácil. Era um sorriso no rosto e o coração rasgando inteiro por dentro. Mas eu consegui. Acho que foi você. Em forma de força, de pensamento, de coragem, sei lá. Mas foi. E daí por diante, em muitos outros momentos que precisei, aprendi a ser forte. Às vezes (muitas) sonhava com você e isso me fez mais forte ainda. Em todas as decisões importantes até agora, eu sempre penso qual conselho você me daria. Afinal, a gente conversava tanto, que seus conselhos fazem muita falta. Em todas as coisas boas que tem acontecido pra mim, sempre lembro de você também e sobre como você ficaria feliz, da mesma maneira que estava lá atrás, sonhando com a minha formatura. Mas tem dias, que a gente fica triste, e são nesses dias, que eu daria tudo por um abraço ou por uma conversa nossa. Te queria uma vida inteira aqui comigo, mas eu sei que todas as lembranças que eu tenho de você são suficientes pra me fazerem acreditar que tudo ainda vai ficar bem, sempre. Eu sei que esse tal processo de amadurecimento vai durar uma vida inteira, porque a gente nunca se acostuma a ficar longe de quem a gente ama.  Mas tenho aprendido muito nesses quatro anos. Confesso que as vezes ainda falho nesse quesito, mas juro que eu tô tentando, vô! Esse tempo que passou foi uma verdadeira loucura. Na mesma medida que parece uma eternidade de dias sem você, parece que passou tão rápido que meu coração as vezes dói, como se tivesse sido ontem, sabe?

Eu ainda sei como é a sua voz, e me lembro do jeito que você me chamava. Lembro também de como você sorria, quando eu chegava na sua casa e corria para te abraçar. Mas dói saber que num futuro não muito distante, a minha idade, vai superar os anos que vivemos juntos. Luto com a minha memória para não esquecer nenhum detalhe seu. Não quero esquecer, não posso esquecer! Dessa forma, te tenho perto de mim sempre.

Se hoje sou a mulher determinada que sou, devo muito a você, que sempre foi o meu maior incentivador pra tudo nessa vida. Apesar de ser tão simples, e de ter uma idade tão diferente da minha, a gente se entendia muito bem e, ultrapassando todas as barreiras da sociedade e do conservadorismo que existia na sua época, você era atual o bastante para me incentivar a correr atrás dos meus sonhos, ser independente e forte. Muitas coisas não me abalam como me abalariam em 2014. Na verdade, não me reconheço mais como aquela menina de quatro anos atrás. Tenho me transformado constantemente em alguém mais forte, mais determinada, mais madura e mais grata. Sim, muito grata por tudo o que você fez por mim. Nunca vou esquecer de nada. Nunca. E como eu sempre disse, crescer ao seu lado, fez toda a diferença. Bem lá no começo, eu ouvi uma frase que já era verdade pra mim, mas que nunca, em toda a minha vida fez tanto sentido como naquele momento: “O céu é real”. Sim vô, o céu é real e a gente vai se reencontrar. Hoje é um dia difícil, mas de alguma maneira estou me sentindo um pouco mais forte (ou será um pouco menos fraca? Não sei, talvez…) Acho que é você. Em forma de força, de pensamento, sei lá. Talvez seja a tal “da fé e da coragem”, que você tanto me dizia.

Sua menina cresceu,

Com amor, gratidão e uma coração feliz,

Juliana